A leitura das imagens: uma proposta para a pesquisa social

Incorporar a leitura das imagens na pesquisa social implica estabelecer estratégias metodológicas e esclarecer problemas epistemológicos, que se constituem num verdadeiro desafio. No entanto, vale a pena correr esse risco, pois, é necessário nos atrevermos a nos envolver nesse processo dinâmico de busca de novas ferramentas, promovendo a sua interface, a fim de compreendermos as representações da identidade dentro de um contexto em que se permite a alaboração de tantos significados.
Nesse sentido, concordamos com Fischman ( 2004, p. 118) quando afirma que ler as palavras da pessoa da fotografia sem ver a imagem real dela não seria suficiente, porque, nesse caso, a foto em si é parte do contexto de criar significado. Nessa perspectiva, 
Eric Margolis (2000, p. 05 apud FISCHMAN, 2004: 118) comenta: “retiradas do contexto, as fotografias se tornam significantes livres e flutuantes, que parecem ser pequenos pedaços da realidade, e podem ser usados para sustentar ou “provar” uma variedade de teses contraditórias”.

Para Fischman, a fotografia é uma evidência de parte do processo de criação de subjetividades para todos os atores envolvidos. O autor apoia-se em Annete Khun (1996) para defender a importância de enfatizar que as fotografias são vistas como um tipo especial de evidência:

“Não é que as fotografias devam ser aceitas pelas aparências, ou tenham um valor central, nem que elas reflitam a realidade diretamente, nem mesmo que forneçam qualquer relação auto-evidente entre si e o que mostram. Simplesmente, uma fotografia pode ser material para interpretação – uma evidência, nesse sentido, teria que ser solucionada, como um enigma. Lida e decifrada, como pistas deixadas na cena de um crime” (KHUN, 1996 apud FISCHMAN, 2004, P. 118 - 119).


Sendo assim, Fischman (2004, p. 119) postula ser importante enfatizar que ao utilizar imagens, tais como fotografias, não devemos considerá-las como neutras – simples documentos captados por uma lente (ou por um artista). O autor cita Thomas Popkewitz (1999) para sugerir que os pesquisadores educacionais necessitam:

“entender que o olho não apenas vê, mas é socialmente disciplinado pela ordem, divisão e “criação” das possibilidades da organização do mundo e do sentido da identidade individual. Ao questionar como os olhos vêem, é possível questionar também como os sistemas de idéias “tornam” realidade o que é visto, pensado e sentido. Tais perguntas sobre a razão – ou seja, a construção social da razão (e as relações de poder embutidas nesta) – são os princípios pelos quais o agente “vê” e age para efetuar uma mudança (POPKEWITZ, 1999 apud FISCHMAN, 2004, p. 119)”.

Fischman chama a atenção para o fato de que a incorporação das culturas visuais requer que os pesquisadores educacionais incorporem, criticamente, a noção de investigação e reflexão sobre o que vemos, e como essas imagens são construídas e reconstruídas por todos os participantes de qualquer projeto de pesquisa. Essa reflexão crítica não é mera extensão do velho ditado: Uma imagem vale mais do que mil palavras (2004, p. 119). Certamente, tal ditado não é mais desatualizado, pois ainda serve como explicação para uma experiência imediata para a maioria das pessoas em todo o mundo. No entanto, deve-se notar que, se uma foto vale mais do que mil palavras, para entendê-la refletir sobre ela ou explicá-la, precisamos usar mil e uma palavras. Ainda assim, não há nada transparente ou inerentemente verdadeiro no mundo das imagens (FISCHMAN, 2004, p 119).

Nesse sentido, a pesquisa não se detém apenas nas abordagens estetizantes, voltadas exclusivamente à qualidade artística ou técnica das imagens, mas sim na decifração da finalidade a que se destinaram as imagens (Kossoy, 2001, p. 132.). Assim, faz-se necessário compreender a imagem de forma ampla e complexa, envolvendo o processo descritivo e subjetivo. Para isso, Boris Kossoy propõe a análise técnico iconográfica, que “consiste na análise do registro visual, a expressão, isto é, o conjunto de informações visuais que compõem o conteúdo do documento” (KOSSOY, 2001, p. 77). E segue explicando que, 


“a análise iconográfica tem o intuito de detalhar sistematicamente e inventariar o conteúdo da imagem em seus elementos icônicos formativos; o aspecto literal e descritivo prevalece, o assunto registrado é perfeitamente situado no tempo e no espaço, além de corretamente identificado. A análise iconográfica situa-se ao nível da descrição, e não da interpretação”. 

Concordamos com Kossoy (2001), quando postula essa análise situa-se a meio caminho da busca do significado do conteúdo, sendo necessário, para a sua total compreensão, a busca do significado intrínseco, que só possível através da análise iconológica. Neste momento, faz-se uma "incursão em profundidade na cena representada, que só será possível se o fragmento visual for compreendido em sua interioridade" (Kossoy, 2001, p. 96) .

Esta análise está centrada em como o indivíduo conta a sua própria história (Kossoy, 2001, p.100). Esse método permite-se combinar com diversas técnicas de pesquisa que podem trazer luz ao complexo "mundo" das representações sociais construídas nas imagens.

 Por  Patricia Munick (Comunicadora Social, Professora universitária e Personal coach).

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